A VOZ DE QUEM JÁ MORREU
Tenho vivido dias de muita reflexão sobre a vida da minha recentemente falecida, querida mãe, agora na eternidade com Deus.Muitas pessoas me surpreenderam ao demonstraram seus sentimentos, ao expressarem os atos de amor, dignidade, respeito, gentileza, coragem, fidelidade, equilíbrio, sabedoria, autenticidade, paixão e alegria que “mãe” praticou enquanto aqui viveu. |
 |
Tudo isso me fez pensar:
- Que peso terá nossa voz depois de mortos, na vida dos que ficarem, ao se lembrarem de nós?
- Na memória dos outros, que aspecto daquilo que somos, perdurará ainda?
- Ecoará nessa lembrança, uma harmonia ou uma dissonância?
Não ponhamos em dúvida esta realidade:
É o essencial de cada um que vai perdurar nessa música póstuma.
Será riqueza? Bondade?
Para alguns o essencial foi a crueldade. Outros destacaram-se pela doçura.
Caim foi marcado pela apaixonada e torpe inveja com que se deixou devorar. Já Abel, seu irmão, pelo exemplo de fé.
Dorcas surge “notável pelas boas obras e esmolas que fazia”.
Judas afirma-se pela traição.
Cada um destes exemplos faz soar em nossa lembrança uma “voz de quem já morreu”.
Em relação ao que somos agora, devemos perguntar:
- O que poderá subsistir na memória futura?
Sem dúvida, o caráter das pessoas fará parte da memória e influenciará a vida diária do homem.
Nem o bem nem o mal deste ou daquele ser humano será sepultado com os seus ossos. Não!
A personalidade não morre porque um coração deixou de bater.
O que o homem faz vive para além da sua vida.
Mais profundas que as nossas ações atuais, as motivações que provocaram esses atos ultrapassam-nos e perduram, inserindo-se nas vidas dos outros como forças positivas ou negativas.
À semelhança de Abel, "que mesmo depois de morto ainda fala" (Hb 11:4), também por nossas ações falamos e falaremos, ainda, depois da nossa morte.
Estamos perante uma energia sutil que se apresenta com obstáculo ou ajuda a outros peregrinos que, na sua estrada, lutam para alcançar a eternidade em Deus. Pense nisso.
